sábado, 18 de setembro de 2010

"Digo-te, não até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes". (Mt 18,22) Por: Chiara Lubich

Com estas palavras, Jesus responde a Pedro que, depois de ter ouvido coisas maravilhosas pronunciadas pela boca do Mestre, lhe fez esta pergunta: "Senhor, quantas vezes devo perdoar o meu irmão, se pecar contra mim? Até sete vezes?" E Jesus responde: "Digo-te, não até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes". Pedro, sob a influência da pregação do Mestre, provavelmente tinha pensado - bom e generoso como era - em se lançar na sua nova linha fazendo algo excepcional: chegar a perdoar até sete vezes. Mas, ao responder "até setenta vezes sete vezes", Jesus afirma que, para ele, o perdão deve ser ilimitado: é preciso perdoar sempre.
"Digo-te, não até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes". Esta frase relembra o cântico bíblico de Lamec, um descendente de Adão: "Se Caim for vingado sete vezes, La-mec o será setenta e sete vezes" (Gn 4,24). Começa assim a difusão do ódio no relacionamento entre os homens do mundo inteiro, avolumando-se como um rio na cheia. Jesus contrapõe a essa difusão do mal o perdão sem limites, incondicional, capaz de romper a espiral da violência. O perdão é a única solução capaz de conter a desordem e abrir, para a humanidade, um futuro que não seja a autodestruição.
"Digo-te, não até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes". Perdoar. Perdoar sempre. O perdão não é esquecimento, que, muitas vezes, significa não querer encarar a realidade. O perdão não é fraqueza, que significa não considerar uma ofensa por medo do mais forte que a co-meteu. O perdão não consiste em achar sem importância o que é grave ou como um bem o que é mal. O perdão não é indiferença. O perdão é um ato de vontade e de lucidez, e, portanto, de liberdade, que consiste em acolher o irmão e a irmã do jeito que eles são, apesar do mal que nos possam ter causado, da mesma forma como Deus acolhe a nós, pecadores, apesar dos nossos defeitos.
O perdão consiste em não responder à ofensa com outra ofensa, mas em fazer aquilo que diz Paulo: "Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal pelo bem" (Rm 12,21). O perdão consiste em você abrir, para quem o prejudica, a possibilidade de estabelecer um novo relaciona-mento com você e, portanto, para ele e para você, a possibilidade de recomeçar a vida, de ter um futuro no qual o mal não tenha a última palavra. "Digo-te, não até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes".
Como faremos, então, para viver esta palavra? Pedro tinha perguntado a Jesus: "Quantas vezes terei de perdoar o meu irmão?" Jesus, ao responder, pensava, portanto, principalmente no relacionamento entre cristãos, entre membros da mesma comunidade. Por isso, é antes de tudo com os outros irmãos e irmãs na fé que se deve agir dessa forma: na família, no trabalho, na escola ou na comunidade à qual pertencemos. Sabemos o quanto, muitas vezes, queremos devolver a ofensa sofrida com um ato ou uma palavra à altura.
Sabemos também que, pelas diferenças de temperamento, por nervosismo ou por outras causas, as faltas de amor são frequentes entre as pessoas que vivem juntas. Pois bem, é preciso lembrar-se de que só uma atitude sempre renovada de perdão pode manter a paz e a unidade entre os irmãos. Haverá sempre a tendência de pensar nos defeitos das irmãs e dos irmãos, de recordar o seu passado, de pretender que sejam diferentes. É preciso adquirir o hábito de vê-los com olhos novos, de vê-los novos, aceitando-os sempre, logo e totalmente, mesmo quando não se arrependem. Podemos pensar:
"Mas isso é difícil!" Não há dúvida. Mas justamente aqui está a beleza do cristianismo. Não é por acaso que somos seguidores de Cristo que, na cruz, pediu perdão ao Pai por aqueles que o matavam, e ressuscitou. Coragem! Comecemos uma vida desse tipo, que nos garante uma paz jamais experimentada e muita alegria a ser descoberta.
Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em setembro de 1999.
Disponível em
http://www.cidadenova.org.br/RevistaCidadeNova/ArtigoDetalhe.aspx?id=4298

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