quinta-feira, 7 de abril de 2011

Músico de Igreja é músico ruim?

Por Cleyton Farias*
Infelizmente, observa-se, no meio musical, certo preconceito relacionado aos músicos que tocam em nossas Igrejas, principalmente em se tratando de Igreja Católica. Basta observar que quando um músico católico tem a graça de se apresentar num palco decente com uma infra-estrutura adequada, os primeiros a desvalorizarem o seu trabalho, normalmente, são responsáveis pelo som que nem sempre dão a mesma atenção que dão aos músicos seculares.
Em nosso Ministério de Música temos músicos profissionais que agora se dedicam à Igreja e já tivemos que ouvir algumas vezes frases do tipo “quando me disseram que era da Igreja não sabia que seria tudo isso, por isso não trouxe todo o meu equipamento” ou então: “nunca vi uma banda de Igreja tocando de forma tão profissional assim”.
O documento 79 da CNBB, lançado em 2004, em seu parágrafo 23 revela o que talvez seja um dos principais motivos dessa realidade. Esse documento é resultado de mais de 4 anos de estudo e observação das nossas igrejas e mostra, sob a ótica dos Bispos do Brasil, o que a Igreja tem feito de bom, de ruim e quais as recomendações com relação à música litúrgica para a nossa Igreja.
Veja o que diz o documento:
 “23. Observa-se, aqui e acolá, um recíproco distanciamento entre músicos dotados de uma arte musical mais elaborada e a experiência comunitária da fé. De um lado, nem sempre os músicos de mais aprimorada cultura musical se entrosam e se identificam com a experiência celebrativa das comunidades. Do outro, nem sempre as comunidades se preocupam em melhorar seu desempenho musical e beneficiar-se da colaboração de músicos competentes. Tanto as pessoas que se ocupam do canto nas  comunidades precisariam ser incentivadas a aprimorar sua  formação litúrgica e musical, quanto os músicos profissionais precisariam receber uma formação cristã e litúrgica.”
Algumas vezes, as nossas paróquias não sabem tratar essa questão ou nem sequer se preocupam em tratá-la. Com isso, normalmente ocorre uma das duas coisas: o músico se desestimula e acaba desistindo de tocar na Igreja ou ele insiste em tocar na liturgia da maneira que ele acha certo, desafiando, muitas vezes, as autoridades constituídas, tornando-se uma grande dor de cabeça para o pároco.
O músico profissional que procura tocar na Igreja normalmente o faz não porque quer simplesmente tocar e se divertir. Ele já tem isso no meio secular. Ele normalmente procura tocar na Igreja porque se sente no desejo de servir a Deus com o seu dom ou de ajudar a comunidade que tem dificuldades de conseguir músicos ou algo do gênero.
É preciso que a comunidade aproveite essa pré-disposição de serviço do músico e dê a ele aquilo que está procurando: um sentido para o seu ministério. A formação litúrgica dá ao músico profissional um sentido que vai muito além do que ele imaginava para estar na Igreja tocando e isso fará com que ele releve muito mais as coisas e persevere na sua missão.
Por outro lado, existem músicos amadores e aqueles que querem ser músicos. A comunidade pode e deve, de acordo com a CNBB, proporcionar condições para que essas pessoas desenvolvam seu dom e toquem e cantem de maneira profissional. É preciso investir naqueles que investem o seu tempo para animar as celebrações para que isso seja feito com amor e qualidade.
Santa Cecília, rogai por nós!

*Leigo consagrado da Comunidade Família de Nazaré

Postado em julho 2009

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